A impressora 3D de hábitos
Helder S Ribeiro
Posted on November 2, 2019
Tem um cara chamado BJ Fogg que é pesquisador do “Departamento de Tecnologia Persuasiva” de Stanford.
Ele é famoso por pesquisar formação de hábitos e infame por ensinar empresas do Vale do Silício e ao redor do mundo a viciar seus usuários.
Antes de descobrir o lado vilão dele, eu descobri o site Tiny Habits que ensina o método de criação de hábitos dele e tem um esqueminha simples de acontabilidade (?) por email para ajudar a começar.
A parte crucial pra mim é o lance de você começar com algo tão fácil que é impossível não fazer.
Exemplo: em vez de colocar “fazer 50 polichinelos todo dia”, você põe “fazer 1 polichinelo por dia”. Exageradamente, ridiculamente fácil.
Tipo, não tem desculpa pra você não fazer. Toma 2 segundos, não cansa, não precisa pôr roupa de ginástica, tomar banho depois, nada. Dá pra enfiar em qualquer lugar do dia.
A sacada é você separar os objetivos. Tem o objetivo concreto, que pode ser “melhorar o cardiovascular”, “perder peso”, whatever, e tem o metaobjetivo, que é criar e solidificar o hábito em si. Esquece o primeiro, foca no segundo.
Depois que você já tiver feito ininterruptamente o hábito com sucesso por N dias (ele recomenda cinco, eu acho bom mais), aí sim você aumenta.
Aliás, aumenta não, cria um outro micro-hábito do zero , encadeado ao primeiro. Esse é o segundo pulo do gato.
Se você simplesmente edita o hábito inicial para, digamos, “10 polichinelos”, você fica com um “tudo ou nada” muito grande. Se não dá pra fazer todos os 10 algum dia por qualquer motivo, você falha no hábito, se sente um fracassado e perde o momento que vinha acumulando. E piora quando viram 20, 30, até chegar nos 50 que você queria.
Então você mantém o micro-hábito de 1 polichinelo, e usa ele como gatilho do próximo.
“Depois de fazer o polichinelo 1, eu faço o polichinelo 2” é o novo hábito que você empilha em cima do que já estava lá. Se um dia não dá para fazer o hábito 2, você ainda consegue fazer o hábito 1: “depois que eu [insira o primeiro gatilho aqui, tipo ‘levanto da cama e ponho o pé no chão’], eu faço 1 polichinelo”.
“Mas desse jeito vai demorar demais pra chegar nos 50!”
Tem que pensar a longo prazo. Bons hábitos são para toda a vida, e o benefício é cumulativo. Depois de 30 anos fazendo 50 polichinelos todo dia, 50 semanas são um preço irrisório a pagar pelo resultado.
E conforme você vai ganhando confiança e depositando camadas fininhas uma em cima da outra, você pode aumentar aos poucos o tamanho de cada incremento, adicionando 2 por semana, ou mais, sabendo que se der merda você simplesmente volta ao degrau anterior, em vez de despencar até o chão.
O segredo é desfrutar do senso de completude mesmo com o pequeno feito regularmente. O que destrói hábitos são as expectativas exageradas e a culpa.
Quando você menos esperar, você vai olhar pra baixo e ver que está em cima do seu próprio Grand Canyon de propositalidade, cada camadinha ainda visível e admirável.
É bem melhor do que uma rocha cristalina: fácil de moldar sem estilhaçar a coisa toda em pedaços.
O nome do hábito que escrevi no aplicativo everyday que eu uso para esta newsletter é “hitSend”. Não comecei esta versão pública com 1 palavra, mas venho fazendo em papel e lápis há meses e agora tenho confiança suficiente de que consigo manter uma versão online.
Ainda assim, se um dia o céu estiver em chamas e eu não achar tempo, eu abro o celular, digito “Um ótimo dia pra vocês”, aperto Send, e saboreio a autossatisfação do dever cumprido do mesmo jeito.
Posted on November 2, 2019
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