Emanuel Gonçalves
Posted on June 5, 2020
Em Outubro de 2019 eu entrei para uma empresa de um produto bem interessante e de um mercado que não conhecia muito: a Storyblok. Além de trabalhar com linguagens que eu já gostava muito e com um time fera e internacional, estou tendo a oportunidade de lidar com uma tecnologia bem interessante e moderna: Headless CMS.
O motivo para a escrita deste texto é trazer para você conhecimentos que eu não tive no passado e despertar o interesse por novas soluções no ecossistema de CMS. Então, esquece de colocar no Google Tradutor o termo "Headless CMS", porquê a resposta não é animadora (spoiler: é "CMS Sem cabeça"). Venha conferir o que são Headless CMS, onde vivem, e o que comem.
Evolução do conceito de CMS na internet
Antes, vamos investigar rapidamente a evolução que a internet teve e o papel dos Gerenciadores de Conteúdo nessa evolução.
A Web 1.0
Características:
- Estática, os navegadores apenas entendiam HTML e a interação era nula;
- Celeiro de informações: a Web 1.0, mesmo tendo as características acima, era extremamente revolucionária, pois agora era possível armazenar conhecimento e compartilhá-lo como jamais visto.
- Armazenamento em arquivos: a web era feita de arquivos HTML que eram publicados através de um FTP. Precisa mudar o conteúdo? Edite o arquivo e suba novamente.
Com o advento dos anos 2000 e o surgimento de ferramentas como PHP e ASP, a Web passou por uma grande mudança, vindo agora a Web 2.0.
A Web 2.0
Sem dúvida, o que propiciou o surgimento dessa revolução foram ao menos três fatores:
- Possibilidade de criação de conteúdo dinâmico. Era possível deixar comentários nos posts, por exemplo.
- O conteúdo poderia ser armazenado em bases de dados, diferentemente do formato anterior, em que o conteúdo era armazenado em arquivos, como por exemplo, o próprio HTML.
- Surgimento de linguagens que permitiam uma dinamização na criação de conteúdo e acesso à base de dados, como PHP e ASP.
Portanto, a principal característica da Web era ser dinâmica, sendo assim possível adicionar conteúdos, editá-los e o consumidor final (o usuário) poder interagir com este conteúdo, por exemplo, criando comentários em posts.
É aqui que os grandes players do mercado de CMS surgem (mais a frente iremos investigar o que são os CMSs) como o Wordpress e o Drupal e os Site Builders, que são ferramentas que praticamente constroem o site para você. Tudo isso surge para facilitar a vida dos produtores de conteúdo, pois agora não era mais necessário ter conhecimentos específicos de programação web para ter um site no ar.
Porém, mais um elemento é adicionado a sociedade: o smartphone. E com ele, a possibilidade de acessar as mesmas páginas web que antes o usuário acessava no computador por esse novo dispositivo.
A Web 3.0
Com o advento dos smartphones e algumas evoluções no acesso aos dados, como por exemplo, a possibilidade de automação da leitura de uma página web (criação dos crawlers web), a web precisou se reinventar. Surgindo assim a Web semântica. É nesta era que surge o HTML5, que possibilita a estruturação do conteúdo web para que não humanos entendam.
Tal evolução trouxe um grande desafio aos CMSs: praticamente qualquer dispositivo consegue acessar a internet. Temos não apenas computadores, smartphones e tablets que acessam a internet, mas geladeiras, arduínos, smartwatches entre outros. Na presente era da internet, que alguns comumente chamam de Web 4.0, o desafio é entregar o conteúdo para qualquer dispositivo da melhor maneira.
Mas, e os CMS?
Um CMS (sigla para Content Management System - Sistema de Gerenciamento de conteúdo), é um software responsável por gerenciar o conteúdo, ou seja, permitir a criação, edição e organização de um determinado conteúdo.
Ele precisa possuir, ao menos, alguns destes elementos:
- Um Dashboard para o produtor de conteúdo: é aqui que temos a liberdade para gerenciar o conteúdo, criar páginas, editá-las, escolher os temas que queremos entre outros.
- Ferramentas para publicação do conteúdo. Uma das etapas mais importantes é a publicação do conteúdo, ou seja, disponibilizá-lo na rede. Um CMS precisa de uma ferramenta para publicar o conteúdo e ela precisa ser simples para o usuário, já que o objetivo é que pessoas sem conhecimento técnico possam fazer uso de um CMS.
Com a possibilidade de variados dispositivos acessarem a internet, o que chamamos de Internet das Coisas, surge um desafio aos CMSs tradicionais, vejamos.
O problema dos CMSs tradicionais
Proponho a seguinte analogia para entendermos qual o principal problema de um CMS Tradicional e o surgimento dos Headless CMSs:
Traduzindo...
Um CMS Tradicional é como o livro que você compra em uma livraria. Quer acessar o conteúdo? Você pega o livro e lê ele, e esta é a única forma. Um Headless CMS é como comprar um eBook. Você lê ele no Amazon Kindle, ou você usa o aplicativo do Kindle no PC, Mac, smartphone ou Tablet.
O principal problema de um CMS Tradicional é que o conteúdo está "amarrado" à implementação do CMS. Em termos técnicos, Front-End (o resultado final para quem consome o conteúdo) está acoplado ao Back-End (implementação do CMS). Como na analogia acima, o conteúdo (texto escrito pelo autor do livro) pode estar amarrado à uma interface física (livro) ou desacoplado da mesma (ebook), possibilitando seu consumo em diferentes interfaces.
Veja a seguinte imagem que mostra a mesma ideia da analogia anterior:
Portanto, os Headless CMSs surgem para suprir essa necessidade de gerenciar o conteúdo da melhor forma para diferentes dispositivos. Mas como se dá isso?
Conhecendo mais a fundo um headless CMS
Já vimos um pouco da evolução da internet e como os CMSs estavam e estão nela. Vimos como funciona um CMS tradicional e como ele, no novo contexto da internet, possui algumas limitações e também vimos como os Headless CMSs as suprem. Mas, como funciona um Headless CMS?
Um Headless CMSs irá prover uma interface tal como um CMS comum teria. Porém, a diferença primordial dele é que, no final, você não terá o Front End pronto. Você precisará desenvolver um que consuma o conteúdo que está no CMS. Assim, um Headless CMS não se preocupa em como o seu conteúdo ficará no final, ele se preocupa apenas em como o conteúdo estará estruturado.
Quais as vantagens?
Como a preocupação é apenas com a estrutura do conteúdo e o Front End é desacoplado da solução, temos como consequência:
- A flexibilidade para escolher a tecnologia que você deseja usar e julga ser a melhor para o projeto.
- Facilidade de configuração e implantação do código, pois você não precisará de um Back End, apenas do Front. Então qualquer static hoisting irá ser suficiente.
- A flexibilidade para transpor o mesmo conteúdo para ambientes/dispositivos diferentes, que outrora era a maior dificuldade que CMS tradicional enfrentava.
A melhor parte: Headless CMS não diz respeito apenas a web sites. Você pode usar um Headless CMS para a criação de aplicativos mobile e desktop, entre outros usos.
E as desvantagens?
Creio que há ao menos duas desvantagens que você pode encontrar ao usar um Headless CMS, mas que são contornáveis:
- Como o seu site não está acoplado ao CMS, não será possível fazer uso de ferramentas de Analytics diretamente pela plataforma/ferramenta que gerencia o conteúdo, como por exemplo, saber quantas pessoas acessaram o site, quais páginas visitaram entre outros dados. Porém, você pode usar o seu static hosting para ter essas informações ou usar o Google Analytics em conjunto com o Google Search
- Você poderá não ter acesso ao resultado final do conteúdo estruturado ao mesmo tempo que gerencia ele. Como Front e Back não estão juntos, você pode achar que criar a estrutura do conteúdo seja algo muito abstrato. Porém, existe uma solução de Headless CMS que o core feature é a solução para isso: a Storyblok 😜😏.
Quais os tipos
Podemos separar as soluções de Headless CMS em dois tipos, baseados em como ocorre a entrega e o consumo dos dados:
API driven
Esta é a solução mais comum. O CMS disponibiliza uma API para o consumo dos dados, e o Front End a usa. Alguns exemplos de soluções no mercado são: Storyblok, Contentful e Prismic
Alguns pontos positivos desta solução são:
- Melhor solução para múltiplos front-ends
- Mais fácil de lidar quando há muito conteúdo
Mas alguns pontos negativos são:
- Geralmente vem com limite no consumo de dados
- Como não é integrado ao Git, pode ser complicado reverter mudanças
Git driven
Nesta solução, cada alteração no conteúdo irá gerar um novo commit num repositório git, e assim, uma nova versão do site será gerada. Alguns exemplos são: NetlifyCMS e Forestry.
Alguns pontos positivos desta solução são:
- Configuração simples
- Fácil voltar uma versão, seja específica ou não
- Integração com o git permite uma curva de aprendizado melhor (claro, se já souber e dominar o git)
Porém, alguns pontos negativos são:
- A forma como o conteúdo irá ser estruturado é limitado
- Se o site tiver bastante conteúdo, pode ser um problema
- Se há vários sites/aplicativos acessando o mesmo conteúdo, pode não ser a melhor escolha
Recomendo fortemente a leitura do artigo do Bejamas (em inglês) a respeito desse assunto.
Considerações finais
Headless CMS é uma solução bem interessante para o seu próximo blog, seu website de campanha de marketing ou até mesmo sua página pessoal na web. Existem inúmeras soluções no mercado. Recomendo o post do time do Bejamas sobre essas diferentes soluções. É um excelente comparativo, mostrando prós e contras de cada solução.
Vejo você no próximo post!
Leituras adicionais
- Post da ContentStack sobre a história dos CMSs
- Post do Bejamas com um overview de Headless CMS
- Post da Storyblok explicando o que é um Headless CMS
- Headless CMS vs CMS Tradicionais do Hackernoon
- Post da Agility sobre dez motivos para se usar um Headless CMS
- Post do Bejamas sobre os tipos de Headless CMS
- Post do Bejamas com uma lista com inúmeras soluções no mercado de Headless CMS
Agradecimentos ao Vinicius Reis pela revisão e pela imagem 😎
Posted on June 5, 2020
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