Como usar a biblioteca basedosdados no R - capítulo 1

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Matheus Valentim

Posted on May 12, 2021

Como usar a biblioteca basedosdados no R - capítulo 1

TL;DR

Neste texto vamos explicar como usar a biblioteca basedosdados no R e como exemplo iremos explorar a relação entre cobertura da coleta e tratamento de esgoto, e incidência de doenças causadas pela falta de saneamento básico. A biblioteca permite acessar, baixar e carregar centenas de bases do nosso datalake público direto na sua máquina. Serão apresentadas as funções presentes do pacote e como utilizá-las para realizar análises.

Como acessar nosso datalake público (BD+)

Organizamos neste datalake as principais bases públicas já tratadas e compatibilizadas, prontas para análise. O datalake é mantido no ambiente da Google (BigQuery) e o acesso às bases é gratuito, com um limite mensal de 1TB - acredite, nem a gente chega a tanto.

O pacote basedosdados te permite acessar esse banco através do R de um jeito rápido e fácil. Para isso, é necessário somente que você possua um projeto no Google Cloud, o que é gratuito. Veja aqui os 5 passos para criar seu projeto. Caso não tenha o projeto, ao utilizar a biblioteca pela primeira vez, esse mesmo passo a passo para criação é printado no seu console.

Conhecendo a biblioteca basedosdados

Como qualquer outra biblioteca no R, você deve instalá-la e carregar no seu ambiente:

# instalando a biblioteca
install.packages('basedosdados')

# carregando a biblioteca na sessão
library(basedosdados)
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A biblioteca contém duas funções principais: read_sql() e a download(), descritas abaixo.

Função download()

A donwload() te permite baixar bases direto do nosso repositório em sua máquina, como um arquivo .CSV. Seus argumentos são:

query: query em SQL com qual tabela se quer baixar, com quais colunas e com qual agregação
path: um caminho para onde salvar o arquivo .csv. Um truque importante é usar projetos do R. Com eles, você não precisa especificar todo o caminho onde quer salvar as bases e o código pode ser mais facilmente reutilizado por outros usuários. Ao longo do texto vamos usar o caminho "/bases" como sendo uma pasta em um dado projeto R. Note que depois de "/bases" acrescentamos o nome do arquivo e o formato .csv.

Caso você queira baixar o Atlas Esgotos da ANA, base que vamos usar nas aplicações, rodaria:

download(query = 'SELECT * FROM `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` ', path = '/bases/base_ana.csv') 
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Função read_sql()

A read_sql() usa uma API para acessar o datalake e abrir uma base em formato tibble na sua sessão de R. O R se encarrega de entrar na nuvem, escolher a tabela e rodar a query para acessá-la, conforme os parâmetros passados na função:

  • query (string) : é a consulta que será feita ao banco em SQL. Aqui você pode especificar filtros, agrupamentos, e outras transformações usando SQL. Veja mais sobre a sintaxe aqui.

  • billing-project-id: é o identificador do seu projeto do Google. Ele é necessário para que o Google saiba quem está acessando a nuvem, e contabilizar o tamanho da requisição que você está fazendo. Não precisa ser especificado caso a set_billing_id seja usada.

Funções set_billing_id() e get_billing_id()

A set_billing_id() guarda o seu billing-project-id usado na função read_sql(). Em outras palavras, você pode definir uma única vez na sessão o seu identificador de projeto do Google, e ele não precisa mais ser um argumento para acessar tabelas. Para os mais experientes, um outro truque possível é guardar o seu id em algum objeto de um arquivo .env e depois usar a função Sys.getenv(objeto) para acessá-lo. Um arquivo .env pode ser gerado com a biblioteca dotenv.

A get_billing_id() printa o valor guardado em set_billing_id. Essa função não é diretamente usada: a função read_sql() automaticamente pega o identificador definido através da get_billing_id().

Dito isso, uma vez que definimos nosso billing-project-id:

set_billing_id("meu-projeto-3058")
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Não precisamos mais usar a função read_sql() com dois argumentos:

read_sql(query = 'SELECT * FROM `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` ' ,
billing_project_id = "meu-projetoid-3058")
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Podemos usá-la sem o segundo argumento (que é o que será feito ao longo do texto):

read_sql(query = 'SELECT * FROM `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` ')
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Aplicações

Antes: Como descobrir os nomes de tabelas

Para exemplificar o uso da biblioteca, vamos estudar duas variáveis de bases diferentes que acreditamos estar correlacionadas: investimento em coleta de esgoto e mortes por doenças que se propagam na falta de saneamento básico.

Para começar essa análise, iremos acessar os dados do Atlas Esgotos da Agência Nacional das Águas. Ao acessar o link do conjunto de dados no nosso site (acima), você verá listado as "Tabelas disponíveis na BD+" - isso indica quais tabelas estão disponíveis no banco.

image

Neste caso temos somente a tabela municipios. Ao clicar na mesma, você irá para uma página que mostra como acessar essa tabela no próprio banco (via editor do BigQuery), em Python e em R (figura abaixo).

Alt Text

No código, vem descrito já o nome do conjunto e da tabela no banco - neste caso, basedodados é o banco, br_ana_atlas_esgotos o conjunto e municipios a tabela. Você pode copiar este código direto para o RStudio.

Diferentes maneiras de consultar uma tabela no R

Utilizando a função read_sql(), iremos carregar os dados do Atlas Esgostos da ANA no R e salvar esse tibble em um objeto chamado base.

base <- basedosdados::read_sql(query = 'SELECT * FROM `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` ')
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Caso você clique para ver a base, vai se deparar com algo assim:

Alt Text

O Atlas contém mais de 30 variáveis sobre a condição da coleta e do tratamento de esgoto para cada município brasileiro. Entre elas, temos, por exemplo, a porcentagem de habitantes do município sem acesso a esgoto tratado, o nome do prestador do serviço do saneamento e o investimento feito pelo município em coleta e em tratamento de esgoto.

A query usada contém um * para indicar que estamos selecionando todas as colunas da tabela. Caso quiséssemos baixar duas colunas, como o identificador do municipio (id_municipio) e o índice de pessoas que não recebe atendimento de tratamento de esgoto (indice_sem_atend) bastaria rodar algo como:

base_cobertura <- basedosdados::read_sql(query = 
'SELECT id_municipio, indice_sem_atend 
FROM `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` ')
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Outra maneira de selecionar uma "sub-base" é filtrando as observações por alguma característica: se estivermos interessados somente no saneamento básico da região norte, não faz sentido pegarmos todas as 5570 linhas da base original. Podemos rodar uma query adicionando o verbo WHERE e indicar que só queremos estados do Norte:

base_norte <- read_sql('SELECT * 
FROM `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` 
WHERE sigla_uf in ("AM","AP","RO","RR","AC", "PA") ')
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Além dessas possibilidades de seleção, podemos agregar essas tabela para o nível de estado, ao invés do nível de município, utilizando um agrupamento por sigla_uf. Ao agregarmos, precisamos também agregar as colunas, somando ou tirando uma média, por exemplo. Nesse exemplo, vamos pegar uma média da cobertura de esgoto por UF. O código fica assim:

base_uf <- basedosdados::read_sql(query = 
'SELECT sigla_uf, AVG(indice_sem_atend) as sem_esgoto
FROM `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` 
GROUP BY sigla_uf ' )
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Visualizando o acesso a tratamento nos estados

Para finalizar, vamos construir um gráfico com essa última base criada para visualizar quais estados tem maior e a menor média de acesso a tratamento de esgoto nos seus municipios:

base_uf%>%
  ggplot(aes(y = sem_esgoto, x = reorder(sigla_uf, -sem_esgoto))) + geom_col(fill = '#7cb342') +
  labs(x = "Estado", y = "Porcentagem média sem saneamento", 
       title = "População sem saneamento básico",
       subtitle = "Média da porcentagem da população municipal sem saneamento, por UF") + theme_classic()
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Parabéns! Concluímos a nossa primeira aplicação da basedosdados! Com ela, descobrimos que o estado que tem, em média, o pior acesso a tratamento e coleta de esgoto nas suas cidades é Rondônia, e o estado que tem a melhor é São Paulo.

Para usar esta mesma base em um outro software, pode-se usar a função download() para baixá-la em CSV direto na sua máquina:

download(query = 
'SELECT sigla_uf, AVG(indice_sem_atend) as sem_esgoto
FROM `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` 
GROUP BY sigla_uf ', path = '/bases/base_ana_uf.csv')
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Cruzando diferentes bases

Outra aplicação importante do pacote é a possibilidade de juntar diferentes bases sem ter que abrí-las individualmente.

Para exemplificar, vamos comparar os dados que obtemos de saneamento com o nível de mortalidade por doenças relacionadas à falta de saneamento. Para explorar mortalidade precisamos de número de óbitos, que estão na tabela do Sistema de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM), e da população, na tabela de população do IBGE. Ambas as tabelas estão disponíveis na BD+ nos links acima!

Para cruzar as tabelas vamos filtrar ambas para o ano de 2013, referente ao Atlas Esgotos (tabela anterior), pela coluna ano presente em todas as tabelas. Além disso, vamos também escolher somente a mortalidade de causa_basica referente a doenças diarréicas, relacionadas à falta de saneamento básico. Os códigos de referência da coluna causa_basica na tabela SIM podem ser consultados aqui. A query abaixo faz esses filtros e seleciona as colunas tanto da base de população e quanto de mortalidade:

base_mortalidade <- read_sql('
SELECT sim.id_municipio, sim.numero_obitos , pop.populacao 
FROM `basedosdados.br_ms_sim.municipio_causa` as sim
FULL JOIN `basedosdados.br_ibge_populacao.municipios` as pop ON sim.id_municipio = pop.id_municipio
WHERE sim.ano = 2013 and pop.ano = 2013 and sim.causa_basica in ("A00", "A01", "A02", "A03", "A04", "A05", "A06","A07", "A08", "A09")')%>%
  mutate(mortalidade = (numero_obitos/populacao)*10000)%>%
  select(id_municipio,mortalidade)
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Vamos então juntar essa base com a tabela de cobertura de saneamento e ver as possíveis correlações. Para isso, podemos juntar as bases abertas no R, a base_cobertura e a base_mortalidade, ou podemos rodar uma nova QUERY:

base_final <- read_sql(
'SELECT  sim.id_municipio, sim.numero_obitos , pop.populacao, ana.indice_sem_atend
FROM `basedosdados.br_ms_sim.municipio_causa` as sim
FULL JOIN `basedosdados.br_ibge_populacao.municipios` as pop ON sim.id_municipio = pop.id_municipio
FULL JOIN `basedosdados.br_ana_atlas_esgotos.municipios` as
ana ON sim.id_municipio = ana.id_municipio 
WHERE sim.ano = 2013 and pop.ano = 2013 and sim.causa_basica in ("A00", "A01", "A02", "A03", "A04", "A05", "A06","A07", "A08", "A09")')
Enter fullscreen mode Exit fullscreen mode

Com a base em mãos, criamos um gráfico que relaciona a mortalidade por doenças diarreicas e a cobertura de saneamento básico:

base_final%>%
  mutate(mortalidade = (numero_obitos/populacao)*10000)%>%
  ggplot(aes(y = mortalidade, x =indice_sem_atend)) + geom_point(color = '#7cb342') +
  labs(x = "Porcentagem sem saneamento", y = "Mortalidade", 
       title = "Saneamento x Mortalidade",
       subtitle = "Os municípios que tem pior cobertura também tem mais mortes?") + theme_classic()
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E com isso descobrimos que aparentemente não há uma forte correlação entre cobertura de saneamento e mortalidade por doenças quando analisamos todos municípios brasileiros que tiveram mortes por diarreia... Mas, conseguimos facilmente juntar 3 bases de diferentes organizações numa única entrada!

Muito obrigado por ler até aqui!


Confira o notebook com a análise completa no nosso repositório:

GitHub logo basedosdados / analises

📊 Repositório de códigos simples e replicáveis das análises publicadas.

A Base dos Dados é uma ONG com intuito de disponibilizar dados tratados e limpos para qualquer um acessar de um jeito rápido e fácil. Apoie a nossa iniciativa 💚.

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Matheus Valentim

Posted on May 12, 2021

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