Para quem acha que não existe machismo na área de TI.

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Aline Bastos

Posted on March 23, 2020

Para quem acha que não existe machismo na área de TI.

Tenho muitas histórias para contar sobre o que eu já vivenciei na área todos esses anos, até hoje ainda sofro com esse tipo de coisa, mas resolvi contar a mais inesquecível.

Em 2010 eu estava procurando emprego como frontend. Eu já trabalhava fazendo freelas, mas não estava sendo suficiente financeiramente. Minha filha tinha 3 anos na época, e dependia somente de mim.

Na época era bem difícil achar algo na minha área, então surgiu uma vaga para a qual eu me qualificava numa empresa que eu não conhecia. Era bem longe de casa, eu precisaria pegar quatro ônibus por dia, mas como eu não podia me dar ao luxo de escolher, mandei o currículo.

Me chamaram para uma entrevista uns dias depois. Fui com muita esperança, pois eu tinha experiência em tudo o que pediam na descrição da vaga. Chegando lá eu e o dono da empresa começamos a conversar.

Ele perguntou se eu sabia PHP, eu disse que tinha noções, mas não programava, e ele então falou que cada desenvolvedor lá pegava um site e fazia do começo ao fim, que eu deveria saber PHP, e ficou surpreso de eu querer trabalhar sem saber a linguagem! Comentei que não pedia isso na descrição da vaga, senão eu não teria me candidatado, mas ele nem me olhou, ficou todo o tempo olhando meu currículo.

Em seguida perguntou quantos sites eu já tinha feito, pois quantidade era muito importante ali, tem que fazer vários sites, e quanto mais fizer, melhor. Fiquei surpresa, pois nunca contei quantos sites eu já tinha feito, mas chutei uns 10. Ele deu uma risada e continuou olhando meu currículo.

Aí ele falou que viu no meu currículo que eu tenho uma filha pequena, e começou um discurso sobre não valer a pena contratar uma mulher com filhos, que eu não ia conseguir me concentrar no trabalho, que ia ficar só pensando nela, que ia acabar faltando muito, e que isso não seria bom para a empresa, por isso ele não pensava em me contratar. Quando ele terminou de falar eu estava, juro, de boca aberta! Quando consegui me recuperar do absurdo que eu tinha escutado eu perguntei por que então ele tinha me chamado ali, já que estava no meu currículo que eu tinha uma filha e ele já sabia qual era o pensamento dele sobre isso. Ele então respondeu, rindo: “Eu estava curioso”.

Gastei uma grana que eu não tinha com passagens de ônibus, corri atrás de alguém para ficar com a minha filha para eu poder ir na entrevista, tudo por que ele estava CURIOSO!

Voltei pra casa completamente arrasada. A dificuldade de conseguir uma vaga era grande na época, eu já estava procurando há bastante tempo, e depois desse episódio eu comecei a pensar em desistir e mudar de profissão.

Agora fico feliz de eu ter me dado mais uma chance e não ter desistido, pois aconteceram coisas maravilhosas comigo depois disso, sei que estou na profissão certa, e amo o que eu faço!

Fica de reflexão pra quem acha besteira ou exagero todo esse movimento sobre ter mais mulheres na área, mais inclusão, mais respeito, aulas de programação só para mulheres, código de conduta nos eventos, mais mulheres palestrando, etc.

Situações assim acontecem com mais frequência do que imaginamos, e afastam as mulheres da área de TI.

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Aline Bastos

Posted on March 23, 2020

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